AUTORRETRATO
Não sou mais aquela imagem
no retrato revelada
de sorriso puro
a face lisa
a testa clara, desnuda
de rugas, a boca muda
o olhar fitando o nada...
Agora sou outra, invertida
sou a imagem finda
velha, empoeirada, distorcida
e já sem muita coragem
para a vida.
Klara Rakal
Poema criado em 1992, em um laboratório de produção de textos poéticos, ministrado pela poetisa, mestra e doutora Graça Cretton, na UFRJ, parafraseando Cecília Meireles. Abaixo, o poema de Cecília (desculpem a intimidade!), grande poetisa, fonte inesgotável de inspiração!
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles
- imagem pesquisada na internet -