De peito aberto Quem sabe dessa vez eu acerto? Decerto o meu erro é o meu acerto Se não acerto é que meu erro passou perto. De peito aberto aceito o meu erro... E a lágrima reverto. KLARA RAKAL
domingo, 20 de outubro de 2024
A POETA
domingo, 6 de outubro de 2024
Teu olho tem um brilho
Teu olho tem um brilho
De sol refletido
— São olhos de mil sóis!
E os meus olhos sós
Procuram os teus
Que, no entanto,
Só me dão adeus...
Poema
do livro
Rastro
de Salamandra,
VillarLuna, 2017.
Escrito
na minha mocidade
ANTES QUE EU ME ESQUEÇA...
Muitos anos se passaram, mas aquela cena exata, enquadrada pelo meu sentimento, nunca esqueci. O moço estava de pé, todo vestido de branco (era graduando de odontologia), e estávamos rompendo o namoro.
No meu peito, um aperto, pois eu era muito apaixonada por ele... havia uma tristeza no ar, de ambas as partes. Naquele dia, não houve discussão. Só um sentimento de... nem sei dizer. Vida em suspenso, indefinição... solidão.
Eu estava sentada no degrauzinho do portão de casa, na rua Haia, então tinha um ângulo de visão peculiar. Quando, de repente, um raio de sol, desses fugidio, alcançou bem os seus olhos castanhos, fazendo-os quase ficar cor de mel... havia, sim, doçura naquele olhar, mas também uma frieza, difícil explicar, só a poesia talvez consiga se aproximar do que vi e senti naquele momento.
Entrei e, em vez de chorar, escrevi... sim, chorei depois. Mas registrei em palavras o que daquele dia mais ficou tatuado na minha memória.
Depois reatamos, casamos, tivemos filhos e... muita coisa aconteceu nas nossas vidas, boas e más. Nos divorciamos, a vida deu tantas voltas, mas nós não nos reencontramos mais. Nem amizade ficou, só mágoas...
Chorei muitas vezes mais, tantas, que desconfio quase secaram minhas lágrimas. Hoje, é muito difícil eu chorar.
*A foto traz um olho feminino, mas não importa: foi a imagem mais aproximada que encontrei daquele olho "de mil sóis"...