sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Imperativo mais que perfeito


             Caminhar num deserto
         tão grande! Um Saara:

         é não te ter por perto,

         Juçara.

         No peito um aperto

         (voz que não se calara?)
         Que jeito! Com que cara?

         Repara que o perfeito

         é o que se tentara:
         Ju, sara!  Ju, sara!

         O mesmo que sentiras

         sinto; às vezes tento,
         às vezes minto. Compara!

         Eu sei, eu sei, querida:

         a lágrima retida
         de todo não se secara...

         Pois para certa coisa tida

         como a única da lida
         nunca se está preparada!

         Mas nada - nada!

         Nada de mim te separa,
         Juçara.




Porque você me ligou...
Em 27/08/2014
Klara Rakal

domingo, 10 de agosto de 2014

E essa lua toda

Foto by Flávia Chapetta, tirada em 10.08.14 - Superlua


                       E essa lua toda
                     Cheia, no alto
                     Do céu, como uma dama
                     Gorda, de salto 
                     E chapéu...

                     Essa lua me olhando
                     Tanto, e calada a me contar
                     O seu drama, enquanto
                     Eu, cansada, pensando
                     Se a quero desvendar...

                    A lua pede, solitária,
                    Um alguém que a console;
                    Mas eu, nessa trama vária,
                    Com sede e sem, o corpo 
                    Mole, me esquivo:

                    Ah, lua, eu também,
                    Como uma dama nua,
                    Te peço e suspiro:
                    Me envolve em teu véu,
                    Teu vestido de céu, e vem...
                    – És o espelho em que me miro!

Poema criado em uma noite de lua como essa, talvez não super, mas tão intensa como a de hoje Lembrei do poema, pois o sentimento que agora trago é o mesmo de outrora...

24 04 2002
Klara Rakal

sábado, 5 de julho de 2014

Grave isto

Foto colhida no Facebook, no grupo de Professores PCRJ/SME. 

Grave isto.

Quando eu voltar a ocupar as salas
A palavra proibida – greve!
Estará escrita na minha testa
E todos a lerão
Mesmo que a tinta seja invisível
(Forjada do meu suor, sangue e lágrimas).

Lerão os inocentes
Aqueles pelos quais luto
E que no futuro a batalha
– mesmo que outra –
enfrentarão.

Mas, também a lerão os indecentes
                                       os impotentes
                                       os incoerentes
                                       os ausentes
                                       os reticentes
                                       os indiferentes.

Porque eu fui à greve.
Porque eu fui a greve.

Porque eu sou a greve. Grave.

12 – 10 – 2013 
Klara Rakal

Mais do que nunca reflete o que sinto. Não a publiquei ano passado pois a julguei muito veemente. Deixou de sê-lo? Não. Mas agora me permito, sem muitas explicações.

domingo, 4 de maio de 2014

Pedra da Gávea

      Ar, respira fundo e emudece
      A pedra surge
      Engrandece
      Estática, imponente
      O tempo para
      Não mais urge,
      De repente.

      Descansa perante Deus

      Que te oferta tanto esplendor
      O cansaço some
      Tudo deixa de ter nome
      Ficam só os meus,
      A paz e o amor.

Eu e Caio, meu filho de 7 anos.


O título dado em um primeiro momento foi "Pedra Bonita", pois fizemos a trilha até lá. Momentos mágicos! Mas a pedra a que me refiro no poema é mesmo ela: a Pedra da Gávea. Escrevi o poema diante dela, feliz, ainda ofegante, e maravilhada.

Para Mariana Antunes Segges, minha sobrinha.
Obrigada por hoje!

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Praia Seca

I


Mais uma vez diante dela: a Lagoa
de Araruama é o seu nome.
E que nunca mais me abandone...
Estou ficando apaixonada
Acostumada com seus humores
- ondas, vento e casuarinas,
sua areia fina, o tempo
lento, por onde anda
aquele sofrimento?
Aqui nada importa mais.
Aqui encontro a paz.
22 01 2014


                                                   II



Ah, esse presente de Deus!
A Lagoa prateando minh'alma
com esse vento - sudoeste? - forte:
hoje é ela que decide meu destino.
Dá um recado tão claro,
impossível não entender...
(A natureza é a dona do mundo.)
As ondas impositivas não se cansam de dizer,
incessantes:  não pare, continue, seja forte,
resiliente e paciente, até a morte
ou até a mudança de sorte.

Hoje é a Lagoa que decide meu destino
Então, embaixo assino.
24 01 2014

- fotos do arquivo pessoal -

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Encanto

(inspirada na sonoridade do poema TANTA TINTA, de Cecília Meireles)

A menina tenta
espantar seu pranto.
Tenta tanto!
Num momento
inventa
um encanto...
Espanto!
O seu canto lento
como a voz do vento
num triste lamento
canta tanto!

(Em 1988. Quando eu tinha 25 anos a menos que hoje.)

Esta postagem se deve ao fato de eu ter publicado no FB esse poema, após revisitar em áudio os poemas de "Ou isto ou aquilo", de Cecília Meireles. Tudo culpa da colega de profissão e área, Else Emrich.
Abaixo, o poema:

 TANTA TINTA

Ah! menina tonta, 
toda suja de tinta
mal o sol desponta!

(Sentou-se na ponte, 

muito desatenta...
E agora se espanta: 
Quem é que a ponte pinta 
com tanta tinta?...)

A ponte aponta

e se desaponta. 
A tontinha tenta 
limpar a tinta,
ponto por ponto 
e pinta por pinta...

Ah! a menina tonta! 

Não viu a tinta da ponte! 

Cecília Meireles



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Se te faltar uma parte tua...

Se te faltar uma parte tua
Eu busco pra ti um pedaço da lua
Lua crescente
Que é pra essa parte
Cicatrizar, como a arte
Cicatriza a alma da gente...

Eu busco pra ti um pedaço da lua...
E da poesia faço a mistura etérea
Areia que adere no brusco aço
Para que nunca mais se destrua!

Se a minha arte recente
Assim como a lua eletriza
Teu cálido rosto de irmã,
Te peço: perdoa-me!
Que nada mais sou que teu ímã!!













Só pra ter a certeza de que nada separa a gente. Nossos laços são de amor e sangue, não é por acaso...

E assim sendo, depois de um período de aridez poética, surge um poema tão significativo...

Muitos momentos inspiradores tive, por muitos temas passeei, muita dor e perplexidade experimentei nesses últimos seis meses que pudessem me despertar o fazer poético... mas não... Só agora, só por você, Graça.