segunda-feira, 18 de março de 2024

Mulher, negra, favelada


Mulher, negra, favelada.
Auxiliar de serviços gerais.

Mulher, negra, favelada.
Claudia Silva Ferreira, 38 anos.

Mulher, negra, favelada.
Baleada no morro do Congonha.

Mulher, negra, favelada.
Estava viva quando foi "socorrida" por PMs.

Mulher, negra, favelada.
Arrastada por uma viatura policial por 300 metros na Intendente Magalhães, Rio de Janeiro em março de 2014.

Mulher, negra, favelada.
— Era traficante — justificaram.

Mulher, negra, favelada.
Deixou 4 filhos e 4 sobrinhos que criava.

Policiais ainda não foram julgados,
continuaram na ativa
e um deles já foi promovido.

O tenente hoje é ca-pi-tão

(do mato).

KLARA RAKAL
30.01.2020



Claudia foi morta em 2014, informa o poema. Quando o escrevi, 6 anos após, minha alma ainda estava repleta pelo horror daquele acontecido. Desde aquela época, as personagens dos poucos contos que escrevi chamaram-se e os vindouros irão se chamar Claudia. Uma forma de não esquecê-la jamais, nem a brutalidade que sofreu e o sequestro de sua vida. Isso vai mudar o mundo? Não, não. Eu sei que não. Mas... Tantas Claudias de lá pra cá... E desde antes até ali... Fico indignada, preciso extrapolar os muros da minha sanidade.

Hoje, dez anos após a morte de Cláudia, os PMs foram absolvidos.
E o capitão do mato agora é superintendente.

(Março é um mês marcado por muitas lutas...)