terça-feira, 26 de abril de 2011

O Rio Roncador - Sampaio Correia - RJ



















O RIO

I
O rio corre, paciente e decidido.
Os caminhos são sempre os mesmos...
Muitos obstáculos...

Mas a vida não é um espetáculo,
respeitável público!
Por que tenho de vencê-los, todos?

Aprendo com o rio,
contorno as pedras, apenas.
Sigo em frente.
Quem me condena?




















II
O rio não para; seu caminho
foi traçado.
Com passividade extrema, obedece.
Ninguém o condena.
Ele se fortalece.

Mas meu caminho é apenas
um traço
(quase apagado...)
Para obedecê-lo,
tenho de aprender a enxergar...

Muitos me condenam,
me mandam parar
Aperto os olhos para recomeçar...



III
O rio é que nem meu coração:
acelerado.
Bate desesperado
não ouve ninguém
não para nem
quando se sente cansado.

O rio é que nem meu coração
é uma canção eterna:
para o ausente, é um sussurro;
para o presente, é como um urro
De dor, de prazer?
Depende de como me vê...



















IV
Aqui, sozinha,
sentada nessa pedra,
sentindo o frio
que me provoca a água desse rio,
meu coração não medra:
estremece, se arrepia,
mas não se arrepende
sequer de um dia!


Klara Rakal
23.04.2011
Rio Roncador
Sítio da Bebé
Sampaio Correia RJ

- imagens do acervo pessoal -

domingo, 10 de abril de 2011

Azzaro

AZZARO

Dorme comigo hoje, eu disse.
Se consentisses...

Tu não vieste.
Não faz mal:
finjo que estás, afinal.

Renda preta,
Sensual (era pra ti)
Taças de vinho
tinto.

Nelson Gonçalves.

No sofá me deito
O lábio entreaberto
(agora, me beijarias)

Me oferto.

Olhos cerrados
Uma leve pressão
(sobre o meu corpo estarias)

Uma doce tontura
Cheiro de Azzaro
Arrepio na nuca

Contigo faço amor
como nunca.

Outro poema antigo: escrevo desde sempre...
27/dezembro/2001

imagem pesquisada no google


sábado, 9 de abril de 2011

Faxina


                              FAXINA

                    Para corações a mil,
                    Bombril.

                    Sabão em pó
                    Para quem está só.

                    Antibactericidas
                    Para as preteridas.

                    Quer um bom amante?
                    Amaciante.

                    Água sanitária
                    Para as solitárias.

                    Cera em pasta
                    Para dar um basta.

                    Quer mudar sua sina?
                    Naftalina.

                    Para o ausente,
                    Detergente.

                    E para o distante,
                    Desinfetante.

                    Destac Madeira,
                    Pinho Bril:

                    Ai, o amor
                    está em que prateleira?

                    (O amor não tem refil.)


Esse poema teria mais uma estrofe, bem direcionada a alguém que eu tinha acabado de "limpar" do meu coração, alguém que finalmente eu tinha decidido jogar fora, porque não prestava mais, aliás nunca tinha prestado... O ano era o de 2002, alguns resquícios ainda de uma faxina iniciada em 1999. Reproduzo a última estrofe, que depois foi banida do poema - quando eu não precisava mais convencer a mim mesma.

(Para um blog a gente confessa tudo... é a proposta!)


                    Para aquele arrogante e otário,
                    Desodorizante de vaso sanitário.


Poema premiado e publicado na coletânea POESIA NA ESCOLA - 2002, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, categoria Profissionais da Educação.

imagem pesquisada na internet

domingo, 3 de abril de 2011

Ventrífuga


                VENTRÍFUGA


                                                  me queres mãe
                                                  de você...


               grávida
               queres me dar
               tua grave vida


                                                   fuga ao ventre
                                                   ventrífuga


               fiquei gestante
               no instante
               em que fiquei
               com você...


                                     imagem pesquisada no google


Esse poeminha também tem já 20 anos... assim como o anterior, "domingo"... o início da década de 90 foi muito fértil pra mim... em todos os sentidos! Início da minha carreira como professora, farta produção poética e, logo depois, a gravidez do meu primeiro filho, hoje com 16 anos.

Domingo


Pontilhados, os pingos
caem na vidraça:

domingo.


imagem pesquisada no google



sábado, 2 de abril de 2011

Quero andar nu

                                                                                        
Quero andar nu
(para Renato F. Marques)

Quando as pessoas deixarem cair as máscaras
que lhes cobre o rosto o desgosto e o gosto
do estragado
do estranho (mal tragado)
daquilo que não tem mais tamanho,

quando elas de fato caírem
e pudermos ver as faces realmente se abrindo
sorrindo

livres de todas as cargas os pesos
toda a ferida sem pus
(embora conservando as cicatrizes)

aí  então estaremos verdadeiramente nus
(e seremos completamente felizes).


(Lendo o poema de Renato T. Marques no Recanto das Letras, veio-me na mente esse poema todo, pronto, como uma resposta – às 21:20h do dia 22/03/2011)

imagem pesquisada no google