quinta-feira, 26 de maio de 2016

Minhas Memórias Literárias III

"Sim... sou professora, mas se me tornei uma, foi por puro medo e admiração de uma professora da época do ginásio: a dona Marilene. O quase parentesco da “tia” cedeu lugar para o respeito que nos imobilizava diante da agora “dona”. Enérgica, sua voz se tornava doce quando chegava o dia da entrega das redações corrigidas. Ela era só elogios para meus primeiros e vacilantes textos, e deixava recadinhos em cinco ou seis palavras que eram, para mim, versos da mais pura poesia, lidos, relidos e decorados, como se a me convencer de que um dia, realmente, eu poderia ser uma verdadeira escritora."

Com este trecho descrevi timidamente, no livro "Minhas Memórias Literárias", as circunstâncias que me incentivaram a ser uma professora e também uma escritora. E explicitei quem foi a minha inspiração: profª Marilene Tinoco, que me deu aulas de Língua Portuguesa nos anos de ginásio, na Escola Municipal Belmiro Medeiros.



Tornamo-nos amigas no Facebook e lhe fiz o convite para assistir ao I Sarau do Bar. O que ela não sabia é que havia lhe preparado uma pequena surpresa...

No dia marcado, quando cheguei ao bar, estacionei o carro e meu coração já estava aos pulos... Falei com meu filho que me acompanhava: "acho que vi minha professora!". Claro que toda a família já estava sabendo do encontro e Caio estava bastante curioso, diria incrédulo, acho que ele me considerava velha pra ter uma professora... Conforme me aproximava, ia procurando-a, até que a vi, já acomodada numa mesa. Meu ímpeto era correr, só não havia ainda decidido para qual direção: ao seu encontro, para abraçá-la finalmente, ou para o lado oposto, fugindo, pois toda aquela ansiedade era demais pra mim, rememorando meus tempos de timidez extrema.

Ela era exatamente como a imaginava! Claro que as fotos no Facebook ajudaram-me a resgatar sua imagem; mas o jeito de falar, de sorrir e gesticular era o mesmo que guardara na gavetinha mais especial do meu coração.


Eu tinha um receio, lá no meu íntimo: que aquilo tudo fosse uma atmosfera criada por mim e que não correspondesse à realidade. Tinha medo de que o encanto se desfizesse quando passasse a vivê-lo realmente. Mas o que aconteceu foi exatamente o contrário! Abracei-a o mais que pude (será que fui inconveniente? Ai, meu Deus, essa dúvida agora me ocorreu!), conversamos, fui presenteada! Houve uma sintonia mágica... Como eu estava feliz!


Iniciei o Sarau, vieram as apresentações, poetas declamaram, mostraram seus livros, até que chegou o momento da surpresa: apresentei o livro "Minhas Memórias Literárias" ao público, li o exato trecho acima em destaque, entreguei-lhe flores junto com um exemplar carinhosamente dedicado a ela! Foram momentos de muita emoção!







A partir desse momento compreendi que nada é definitivamente passado, tudo nos pertencerá sempre: o que fomos, o que fizemos, com quem estivemos... O que vivemos define o que somos, e poder reviver tudo (até as dores) nos torna melhores, mais fortes e mais felizes.

Foi um sonho realizado.


Um comentário:

  1. Karla, seu texto me emocionou demais. Agradeço por ser essa pessoa tão generosa e carinhosa com sua ex-professora. Só posso dizer que, naquela noite, sua ansiedade foi semelhante à minha. Ao revê-la, porém, ela deu lugar a uma grande alegria. Foi um prazer conhecer seus alunos, seus amigos poetas e sua linda família. A noite foi maravilhosa! Um orgulho saber que fui inspiração para a escolha de sua profissão. Melhor ainda, vê-la feliz e realizada.
    Sucesso e alegrias para você, minha querida!
    Grande beijo

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